A integração é o melhor remédio

Já foi o tempo em que pais e mães deixavam seus filhos na escola e seguiam tranqüilos para o trabalho, certos de que ali os jovens estariam a salvo dos perigos oferecidos pelas ruas. Estes muros de proteção ruíram e a violência chegou às salas de aula. Casos de vandalismo, ameaças, agressões físicas e verbais, furtos, roubos, consumo de drogas são cada vez mais freqüentes e acendem um sinal de alerta. Afinal, o que está acontecendo com a educação no Brasil?

Em fevereiro deste ano, um aluno espancou a professora dentro da sala de aula, em uma escola estadual de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. A agressão ocorreu após o aluno ter sido repreendido por atrapalhar a aula. Encaminhado à Delegacia da Infância e Juventude, ele ficou detido por algumas horas, mas foi liberado depois da chegada de familiares. Diante de um histórico de indisciplina, a mãe confessou não saber mais o que fazer com o garoto. Em maio, um professor de História foi agredido por um ex-aluno a poucos metros da escola pública onde trabalhava, em Brasília. Depois da licença para a realização de cirurgias no rosto e fisioterapia, ele pensa em mudar de profissão. No mês passado, três alunos da 5ª série de uma escola estadual da periferia de Campinas aproveitaram a hora do intervalo para passar cola na cadeira da professora, que sofreu queimaduras de primeiro grau depois que o produto corroeu o tecido da calça e feriu a sua pele. Estes são apenas alguns exemplos de uma relação conturbada dentro das instituições de ensino espalhadas pelo país. Ao invés de lições de cidadania, o convívio escolar tem gerado boletins de ocorrência policial.

Não há dúvidas de que algo está errado, mas qual deve ser o ponto de partida para discutir o assunto? Numa visão mais simplista, alguns apontam a própria sociedade como fonte do problema. Jovens violentos seriam o retrato da exclusão e marginalização que afetam as comunidades mais carentes. O fato de episódios deste tipo terem maior incidência em escolas da rede pública das grandes cidades parece contribuir para a “tese”. Há quem culpe a falta de estrutura do ensino brasileiro. Escolas deficitárias e metodologias retrógradas seriam incapazes de estimular os alunos e contribuir para a sua formação. O governo também é responsabilizado pela pouca atenção ao tema e pela ausência de políticas públicas efetivas que atendam às necessidades dos jovens. Outros, porém, vêem na família a raiz da questão. A falta de bases sólidas, diálogo e reforço de valores dariam brechas à falta de limites e ao desrespeito que, muitas vezes, começa em casa.

Cada um dos fatores expostos contribui sim para o aumento dos índices de violência nas escolas, mas não podemos esquecer de um ponto fundamental que favorece esta triste realidade: a falta de integração entre comunidades e instituições de ensino. Programas de incentivo ao esporte e à cultura, policiamento reforçado, câmeras de segurança são medidas paliativas, que nada irão resolver se o problema não for estudado em sua origem. Antes de tudo, é preciso aproximar professores, alunos e seus familiares, estimular discussões sadias, até mesmo com o auxílio de psicólogos, para tentar encontrar, juntos, uma solução. Enquanto o silêncio não for quebrado, o clima de hostilidade vai continuar a existir.

Quer ver como o diálogo ainda é o melhor caminho? A violência também levou o medo às salas de aula norte-americanas. Em Nova York, a solução encontrada foi criar núcleos de educadores para tratar dos casos, antes encaminhados diretamente à polícia. E funcionou. Em apenas dois anos, as ocorrências caíram 10%. Ambiente pacífico, melhor qualidade do ensino e maior aprendizagem. Bem próximo de nós, a Argentina desenvolve um trabalho pioneiro na América Latina, treinando docentes para mediar os conflitos. Estes países já descobriram que não é preciso muito para combater atos violentos no ambiente escolar, basta iniciativa e coragem para enfrentar o problema de frente.

Devemos trabalhar para a prevenção. Primeiro, em casa. Se os jovens são agressivos na escola, certamente apresentam indícios deste comportamento também no convívio familiar. Cabe aos pais instituir uma relação de confiança e participar do dia-a-dia dos filhos; conversar sempre, sobre tudo. Atitudes simplesmente repreensivas geram mais intolerância e conflitos. Melhor do que apenas impor regras e “castigos” é saber ouvir e observar. Pequenos gestos ou desabafos podem indicar as causas de tanta “rebeldia”. Feito isso, o trabalho se estende às escolas. O apoio das famílias vem facilitar o trabalho dos profissionais na construção de um diálogo efetivo com estes jovens. Temos, então, um tripé que se torna a base de sustentação e equilíbrio para um convívio sadio. Educadores, alunos e famílias num esforço conjunto para trazer novamente a paz às escolas brasileiras.